O humilde músico que aceita o aprendizado das ruas
Por Bélgica Medeiros l Foto: Bélgica Medeiros
Ao andar próximo a região do Viaduto do chá, é possível ouvir o teclado e o violão do Anísio, acompanhando as canções dos Beatles e do Elvis que ele interpreta.
O músico de 69 anos é artista de rua há 3, porém, já tem experiência com o público democrático das calçadas, desde a época em que pregava o evangelho nas praças da cidade de São Paulo. "Estou nas praças há 32 anos, mas como
pastor, pregando o evangelho".
Casado e aposentado, a arte de rua o ajuda a complementar a renda em casa. Porém, a família não aceita essa profissão, sentem vergonha "Minha família morre de vergonha, não falam o porquê, mas já passaram de carro por aqui e nem desceram para assistir" revela.
Começou a tocar na rua ao conhecer um americano, que ele chama de Mr. Paul. Após tomarem um café juntos, Paul se ofereceu para ensiná-lo a falar inglês e, no mesmo dia, já começaram a treinar uma música "Um rapaz muito educado, uma pessoa muito boa, e nós fomos conversando. Naquele mesmo dia ele passou uma música pra mim e depois outra e outra", contou.
A amizade continua até os dias de hoje.Paul aparece algumas vezes durante a apresentação de Anísio para ver se ele está pronunciando corretamente as palavras. " E hoje ele continua me instruindo, às vezes, ele para aqui do lado, quando pronuncio uma palavra errada, ele dá com a mão e corrige", disse.

Anísio tem algumas composições de músicas gospel, mas prefere não misturar as coisas quando o assunto é se apresentar tocando os clássicos do rock. Além das ruas, já atendeu a convites para tocar em casas fechadas, porém, após um roubo que sofreu, ficou com medo de continuar atendendo à esses pedidos.
"Às vezes me convidam para fazer apresentação fora, mas eu só faço aqui, todos os dias da semana. Eu recebo os convites e não atendo, porque há lugares estranhos. Para tocar nesses espaços é melhor ter um escritório central, que faça os documentos e os contratos. Melhor não poder atender a alguns convites, às vezes é até uma cilada. Eu atendi um convite uma vez, roubaram todos os meus instrumentos e eu fiquei com medo".
Ele acredita que o mais importante de tocar na rua, é a troca de aprendizado. Disse já presenciar uma pessoa passar uma hor de pé, o ouvindo tocar "Muitas pessoas param e ouvem, e crescem no conhecimento. Tem gente que passa e aprende, tem gente que passa e ensina".
Houve, inclusive, um fato curioso, quando chamou uma pessoa do público para tocar em seu lugar, e foi surpreendido "Um dia passou um senhor e deu um show, o cara era fantástico, ele cantou I'll Follow the sun, dos Beatles, sozinho, e deu um show perfeito em todas as notas".
Ele gosta de cantar, pois acredita que proporciona alegria às pessoas "Eu canto porque a música alegra a alma da gente, canto porque eu gosto, não é só pelo dinheiro, eu realmente gosto de fazer isso", declara.
Ouça um pouco da interpretação do Anísio: